Mel foi embora da nossa vida há mais de dois anos. Parece pouco, mas um dia sem ela já é uma eternidade.
Até hoje soa aos meus ouvidos o latido dela, do som das patinhas pela casa quando guardava o carro na garagem ao chegar da rua, das vezes em que, escondido, conseguia ouvir a respiração ofegante produzida por ela depois de tanto me procurar.
Pensa em alguém aflita. Essa era Mel. Recordo-me também e, indisfarçadamente, recolho cada lágrima que cai no chão para banhar-me de uma saudade vazia que o tempo não tem preenchido.
Mel continua insubstituível aqui em casa. Cada cantinho dela permanece irretocável. As lembranças, ah, essas permanecem latentes no hipocampo acumulado por bons anos com minha filha de quatro patas. Os melhores, posso dizer!
Mas cada instante acabou sendo único ao lado da Mel, quando, por exemplo, ela deitava-se na nossa cama e com a barriguinha para cima dormia no ar condicionado.
Mel nos faz falta. O humor, ou a ausência dele, me faz muita, mas muita falta. Não sei se Mel, com a inteligência acima da média em comparação a outros cães, tem medo de me ter dado poucos carinhos. Não, Mel, saiba que eu não esqueci nem um.
Vivemos juntos pouco mais de seis anos e se você acha que me dedicou pouco tempo, saiba você que eu, mesmo desse pouco, aproveitei cada momento.
Rimos, brincamos, tomamos café e banho juntos, mas não deu tempo para arrumar um namorado para você. Mas não ia dar certo. Era ciumento demais e queria você toda para mim.
Porém Mel, não pense que ficava chateado com você quando ficava em cima da gente querendo comer pipoca enquanto assistíamos algum filme, era tudo encenação. A pipoca era para você também, sua boba.
Nunca fizemos distinção de você aqui em casa, no seio familiar. Talvez um dia, Deus me dê a possibilidade de ter um outro cachorro para preencher o vazio deixado por você.
Sabe Mel, sei lá, acho que vai ser estranho ter alguém aqui conosco e ficar pensando (como estou agora) em você. Não esqueci do seu perfume, saiba que ainda agora estou sentindo o cheiro dele sendo trazido pelo vento.
De olhos fechados, para terminar, Mel, não acredito em reencarnação. Quando morremos, tudo se acaba. Mas você permanece viva para mim.
Entretanto, do lugar em que você estiver, caso queira renascer em outra vida, saiba que eu gostaria de reencontrá-la antes de ir embora deste mundo. Quero que saiba que se você acha que o amor pode ter fim, no meu coração você permanecerá para sempre. Afinal de contas, meu maior arrependimento foi não ter te amado mais.
Mel, apesar da falta que você me faz, continuo aqui com meu trabalho e quando saio de carro, o mesmo que você pedia insistentemente para passear, fico observando as pessoas nas ruas levando o pessoal da tua raça no pet shop, coisa que você adorava fazer.
É... é a vida, né? Mas sabe o que eu gostaria mesmo? Do fundo do meu coração? Era que Deus me permitisse um dia te encontrar e nesse encontro eu poder te abraçar e dizer: "Mel, eu continuo te amando!".